quarta-feira, 27 de julho de 2011

Cipotânea, amore mio depoimento de Nezito Reis sobre Cipotânea 300 anos


Cipotânea, amore mio

       Falar de Cipotânea, que comemora trezentos anos, não é fácil. Primeiro, é que vivi na roça, na Brejaúba até meus onze anos, quando fui para Barbacena. Aos vinte anos, aportei-me em São Paulo. Com isso, Cipotânea foi ficando mais distante de mim. Passei mais de vinte anos sem dar as caras por aquelas bandas: Paciência, Jabuticaba, Barretos e Vaivém. Em Vaivém fui criado pelos meus avós maternos: Inácia Arantes e Chico Afonso. Lá tive uma infância humilde mas, muito agitada. Lembro-me de algumas pessoas que viviam em Cipotânea durante a minha infância:
       Wernek, professor de música e alfaiate. Ele era casado com Bilica, filha de João Arantes. Por tanto, Bilica era minha prima em segundo grau. Minha avó freqüentava muito o casarão do Wernek. Lá havia uma enorme biblioteca. Para mim, aquilo era fantástico, embora nunca tive a oportunidade de ler um livro daquela biblioteca sequer e também eu não sabia ler adequadamente naquele período. O casal sempre recebia a nossa visita para um almoço ou mesmo um café da tarde reforçado. O Wernek confeccionava os ternos mais estilosos, que várias figuras da sociedade xopotoense vestiam: políticos, intelectuais, fazendeiros, etc.
       Outra figura marcante foi o Padre Argemiro de Carvalho. Foi ele quem construiu a atual Igreja de São Caetano. Padre Argemiro foi meu primeiro confessor. Isso mesmo: a confissão preparatória para minha primeira comunhão. Ele era irmão de José Inácio de Carvalho, farmacêutico local e primeiro Prefeito de Cipotânea. Na cidade não tinha hospital, não havia médico. Zé Inácio era nosso médico. Ele cuidava de todos com muita atenção. Com muita paciência saía a qualquer hora do dia ou da noite. Montado naquele cavalo, quase inseparável, ia atender a quem precisasse. Não havia distância para ele. Lembro-me de certa vez, já era noite e meu tio Ieié saiu em busca de Zé Inácio. Meu avô Chico Afonso estava muito mal, com uma infecção urinária. Meu avô, coitado, urrava de dor na hora da micção. Depois de quase uma hora cavalgando em cavalo emprestado de Sodé Arantes, Ieié chegou a Xopotó. Lá encontrou Zé Inácio em seu laboratório, vestido de guarda-pó como se já estivesse esperando por algum chamado de urgência. Ele pegou o cavalo baio e, foi a Vaivém atender o Chico Afonso. Zé Inácio e em seguida aplicou uma injeção e medicou alguns comprimidos. Em pouco mais de meia hora, Chico Afonso já se sentia aliviado. Zé Inácio era uma pessoa muito generosa. Não havia problema algum com aqueles que não tinham condições de pagar consulta ou medicação. O nosso farmacêutico atendia a todos sem distinção.
       Cipotânea é uma cidade que deu vários filhos ilustres para este Brasil: muitos Padres, Bispos, Médicos, Escritores, etc. Não conheci pessoalmente muitas pessoas ilustres da terra, embora não posso esquecer de citar aqui o Dr. Geraldo Barroso de Carvalho e seu irmão Luis Barroso de Carvalho, filhos de José Inácio. Luis foi farmacêutico, assim como seu pai José Inácio. Quanto ao Dr. Geraldo Barroso, de quem tenho enorme prazer de ser amigo, além de um grande médico é um excelente escritor. Já publicou diversos livros e continua a escrever.

       Bem, em trezentos anos da cidade de Cipotânea, deve haver muitos casos e fatos importantes e pitorescos. Mas fico por aqui na expectativa de conhecer ainda muito sobre a cidade que muitos e eu amamos.
veja um pouco sobre este autor de nossa terra. Texto abaixo tirado de sua página oficial. http://www.nezitoreis.com/node/53

Antes do Teatro

Antes do teatro eu gostava mesmo era de fotografia. Eu era muito pequeno, ainda, quando morava na zona rural de Cipotânea. Sempre que aparecia por lá algum parente vindo da cidade grande , com uma câmera, eu ficava fascinado. Mas não havia condições de comprar um aparelho daqueles. Só depois de muitos anos e já trabalhando foi que consegui comprar minha primeira máquina fotográfica. O custo para manter aquilo era muito alto e, logo abandonei a idéia de sair por aí fotografando. Passados quase trinta anos, comprei uma câmera Zenith. Câmera esta que está comigo até hoje. Foi com ela que produzi algumas fotos da minha pequena cidade e de vários outros locais por onde andei. Não são fotos de estilo profissional. Também não são fotos digitais, que todos usam hoje em dia. As fotos de paisagens, casarios ou mesmo de pessoas, foram digitalizadas por amigos meus, velhos colaboradores.